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POSTAGENS

Compartilhamos agora este importante registro de 1875, descrito pelo naturalista francês Paul Marcoy, quando em sua viagem pela América do Sul, que para chegar a Belém passou pelo rio Moju. Este é o desenho do então Engenho Juquiri.
Confira o texto que o mesmo escreveu sobre o lugar, numa tradução livre.
O segundo refluxo da maré nos flutuou sob as paredes de um engenho de moer cana - em um sitio com o nome de Juquiri. Não muito longe do mesmo lugar era um vasto pátio de madeira, um depósito ou entreposto - não sei qual - de construção de madeira pertencente ao estado. O dia era sábado e, como o sábado está muito próximo do domingo, e domingo em um país cristão é um dia de descanso, a cessação do trabalho no estabelecimento de açúcar foi anunciado às seis horas da noite pelo som de um violão e o barulho de vozes misturadas, que às dez horas lembrava o uivo de bestas ao invés da expressão de alegria humana. Como o fato ocorreu no interior do edifício, não conseguimos ver o que acontecia, de modo que o piloto e os remadores foram reduzidos a conjecturas quanto à provável causa do tumulto, que o primeiro nome atribuiu a um casamento Tapuya, e o segundo ao aniversário de um santo, a quem eles honraram à moda americana com danças, músicas e algumas garrafas de eau-de-vie. Quanto a mim, nada sabendo do país ou das maneiras de seus habitantes, eu não tinha nada a dizer sobre o assunto e estava contente em ouvir. Certamente, se a intensidade do prazer deve ser medida pelo ruído aqueles que fazem e quem participa, as pessoas que ouvimos sem ver devem ter se divertido muito de fato.
O ENGENHO JUQUIRI – 1875
TRAVELS IN SOUTH AMERICA FROM THE PACIFIC OCEAN TO THE ATLANTIC OCEAN.
BY PAUL MAKCOY.
LONDON: BLACKIE & SON, PATERNOSTER BUILDINGS, EC; GLASGOW AND EDINBURGH. 1875.


O grupo parafolclórico Flor do Rio Ubá é a representação da cultura mojuense, levando a música mojuense/paraense a todos os cantos de nosso município. São músicas que estavam ficando esquecidas na memória de nosso povo, especialmente dos mais jovens que sequer conheciam. Resgatar não é a palavra, mas perpetuar por meio de apresentações que primam pelo reconhecimento dos artistas de nosso município, nosso músicos e compositores. Salve a Cultura Popular!
Para contratar o grupo ligue: 91-992840542



Neste domingo, 15 de dezembro o grupo de carimbó mojuense Flor do Rio Ubá fez uma apersentação no aniversário de 40 anos da Empresa Sococo S/A, radicada no município de Moju. Confira alguns momentos da apresentação:













    Durante muitos anos o fenômeno natural (sobrenatural) da pororoca povoou o imaginário da população ribeirinha do município de Moju e região, visto que até há alguns anos ela se mostrava com forte correnteza e grandes ondas, que vinham provocando desastres aos mais desavisados, que não se preveniam com suas embarcações. Porém, depois da década de 2000 já não podia se observar esse tão bonito fenômeno, onde se especula as causas que fizeram com que ela já não se apresente de igual forma como nos anos anteriores, principalmente em frente à cidade.
    Porém, ainda é possível observar tal fenômeno em alguns pontos do rio, em frente a algumas comunidades ribeirinhas, como é o caso da Pedreira no Médio Moju, situada cerca de 40 minutos de carro da sede do município, ou ainda de 2 a 3 horas por barco, subindo o Rio Moju. No local onde acontece o evento com mais forma existe uma pequena praia, com um banco de areia com cerca de 300 metros de largura. Lá é possível observar essa maravilha natural, como podemos ver no vídeo desta postagem.
    Confira! Deixe seus comentário e compartilhe!



Apresentamos a você amigos, mais uma crônica de Toni Cristo, que nos presenteia com este belo texto, fazendo memória de nosso município.

O MEU VELHO TRAPICHE

Pensei hoje em sentar na cabeceira do trapiche. Ouvir um violão, degustar uma cerveja ou, quem sabe, uma caipirinha. A bebida na verdade é o que menos importa. Meu desejo maior é reacender o passado. Desfrutar do sossego que um dia experimentei ali.
Mas, cadê o trapiche? O trapiche ou a “ponte grande”, apelido carinhoso que surgiu ao sabor da criatividade dos mojuenses.
Erguido sobre vigas de madeiras assoalhava uma nesga do rio. As águas escuras ao correrem por debaixo da ponte amorteciam nas toras, provocando um vigoroso som. Era extasiante e às vezes, aquele barulho, era capaz de acalmar as agruras da vida.
 Na cabeceira do trapiche, obtinha-se a visão fascinante daquela pequena cidade.
 De costas para o rio podia-se contemplar os maiores prédios: o religioso e o outro político. Logo em frente a pequena praça de uma arquitetura simples e acolhedora. Contavam-se nos dedos das mãos o número de assentos. No centro um círculo de onde saiam pistas de passeio. Sua simplicidade não era capaz de ofuscar a sensação de liberdade que lá existia. Ali iniciavam-se paqueras, revelavam-se namoros e paixões; inauguravam-se beijos, testemunhavam-se matrimônios. Uns duradouros, outros efêmeros e alguns eternos.
  Os assíduos da praça sussurravam cantigas sob o olhar vigilante de Jesus Cristo.
    Nosso Senhor escuro!
    Nosso Pai celestial! Senhor das mãos protetoras!  
    De frente para o rio, a mata densa, ostentavam raízes submersas.
    As copas dos buritizeiros pareciam competir qual estaria mais próxima do céu. Não se sabia qual o mais alto. Emaranhavam-se.
    Pelos troncos das árvores enroscavam-se cipós que embebiam a água doce do rio. No topo delas as bromélias que lá criaram seu habitat. Açaizeiros envergavam-se com cachos frondosos. Quando maduros seriam arremessados naquelas águas. O certo é que haveria quem os saboreasse.
    No fim da tarde pássaros ensaiavam coreografia com suas próprias canções. Da cabeceira do trapiche, via-se o calmo remar dos pescadores na busca diária do seu sustento. As experientes mãos calejadas da roça ainda suportariam carregar a tarrafa e a zagaia. Aprumavam-se silentes na estreita canoa. Um pé cá e outro lá. Era o equilíbrio permanente pela sobrevivência.
       A cena era o “combustível” para qualquer espécie de arte.
       Nas vigas do trapiche não se atracavam apenas barquinhos. Amarrados nas toras oscilavam os sonhos de poetas transeuntes. A “ponte grande” inspirava versos e poesias. Serviu de palco à cultura. Os momentos são memoráveis.
       Minha terra nunca foi tão teatral, mas abriga uma legião de leigos que respirava ao sabor da arte.
        O nosso trapiche! Ah, que saudade!
        Ali se ouviam canções de Caetano, Chico, Gil... Os ouvidos, vez ou outra, lembram “Não Chores mais”, de Bob Marley, cantada por Gil.  
         Naquela ponte repetiam-se estórias mal assobradas. O medo não me furtava a vontade de ficar atento e curioso para ouvi-las. E as lendas se multiplicavam em mim - mulher sem cabeça; mulher do fogareiro; a carroça da meia noite; o homem que andava por cima do rio - estórias da infância guardadas na memória, inesquecíveis.
         Na “ponte grande” comemorava-se o time campeão da cidade. Gritos, festa e estrondo dos foguetes. Às vezes, sobressaia-se o vermelho; outras predominava o preto e o branco, mas não era raro, o verde floresta. Cores dos nossos times que o trapiche recebia sem distinção.
         Com as mãos para o alto, no mês de maio, o povo saudava e pedia bênçãos ao Divino-Pai e Divino-filho. Ambos despontavam do baixo e do alto rio Moju, acompanhados por caboclos e caboclas das margens do rio das cobras.  
         Daquele trapiche, via-se a onda gigante da pororoca, causando o estremecer naquelas toras.
         O velho trapiche significava não somente o início de uma nova fase, como também o final de etapa vencida. Ali chegavam e partiam pessoas, e com elas locomoviam-se sonhos intermináveis. Abrigava também o encontro dos boêmios, os que resistiam à noite para continuar a ver o clarão da lua, até o raiar do novo dia.
            A ponte grande “afundou”. Com ela desapareceu parte do brilho de nossa história. Emergiu-se o concreto com pilastras altas cobrindo pequena parte de nosso estirão. Naquele concreto percorrem cansados e medrosos condutores de veículos, impedidos de contemplar tamanha paisagem, que outrora motivou olhares poéticos.
            As pilastras de concreto não têm a poesia da nossa “ponte grande”. Não há o som da música. Não há a interpretação da poesia. Não se ouve o ruído das cordas do violão e nem se escuta as vozes desafinadas da boemia. Não há histórias e nem estórias.
            O trapiche foi erguido para emocionar com chegadas e partidas, mas foi capaz de unir outros sentimentos. Despertou talentos. Fez risos e choros. Semeou emoções.  
            A “ponte grande” não convergia às margens opostas, mas era o liame agregador de pessoas e sentimentos. Criava a união e amenizava a calmaria dos fins de semana, sem, contudo, subtrair a quietude costumeira. Esse é um retrato que não se esvai com o passar do tempo. E eu o guardarei em mim por essa vida afora. Será sempre o pequeno refúgio, acolhido em minha alma para lembrar um tempo de ternura e paz.   


ANTONIO LÚCIO CARDOSO CRISTO
Crônica “O Meu Velho Trapiche”. Homenagem ao Trapiche Municipal de Moju, que ficou apenas na memória. (18.09.2018)



               





Caros leitores do blog,

Nosso cronista mojuense Antônio Cristo, o Toninho nos brinda com mais uma crônica que retrata muito bem nossa cultura, nossa memória, e que com muita propriedade nos remete às histórias deste Rio das Cobras, que são tantas, desde tempos imemoriáveis são contadas e que com este trabalho com certeza não serão esquecidas. Trabalhos assim são importantes para essa preservação além de seu conteúdo cultural, visto que essa manutenção da memória de nosso município é de suma importância.
Leiam e se deliciem com este texto maravilhoso.


RASTROS NO RIO

Aquele mês era prazerosamente esperado.
Março!
Mês da chuva grossa. Do verde mais esverdeado. Da lua cheia que brota no fim do estirão! Da maré alta.
Do mês da pororoca!
Pra quem nunca avistou, era uma onda forte que “rasgava” o rio. Enxergava-se a quilômetros de distância. Despontava no fim do estirão do baixo rio Moju.
Metade branca, metade escura.
Num “piscar de olhos” desaparecia e boiava nas margens do outro lado. Arrebatava troncos e toras. Quebrava árvores. Molhava o caule e lambia as folhas dos açaizeiros que emparedavam as encostas do rio.
           O povo corria eufórico para celebrar sua chegada.
Joga cachaça! Joga tabaco! Quem sabe acalma! Alguns gritavam.
Medo não causava, apenas êxtase. O ribeirinho ficava embebido de felicidade. Fugia da rotina.
Parecia que a água queria reunir-se a terra.
Naquele dia o povo “descia” e agasalhava-se à beira do rio. Os destemidos espremiam-se no trapiche para sentir a pancada nas vigas de madeira.
A onda não permitia barcos e canoas atracados. Melhor que ficassem ao sabor do vento. Assim cantam nossos poetas, “os barcos soltam-se com medo de naufragar”.
Naquela manhã águas salobras molhariam a cidade. Não falhava!
O fogo do almoço era desligado. A comida haveria de esperar. A pororoca, não!
Contam os mais velhos que, certa vez, subiu até a escadaria da igreja.
            Naquele dia do mês o povo estaria frenético e mais feliz. Não era um dia igual aos outros.
 Para alguns, inexplicável. Para outros, uma lenda. Dois meninos ribeirinhos naufragaram num botinho. Um era branco e o outro preto.
De repente o rio enche.
A onda passa. A “maré” cresce.
E a água toma o seu curso natural. Corre rumo à nascente do rio Moju. Lá se vão miritis, taperebás e açaís que não foram catados.
O povo retorna à calmaria, sem sofreguidão. Para os que viram, fica o encantamento. Para os que não viram a cisma eterna. Todos ouvirão tuas histórias.
           Naquelas águas correm lágrimas tristes da adolescência.
A onda passou como turbilhão. Daqui a um ano há de molhar este chão. Março chegará!
Os dias se passam. Março chega. Anos se vão. Não voltaste. Não disseste adeus!
Não mais beijaste a terra do Santíssimo. Logo tu, que alvoroço causaste!
Só nos restam poesias, músicas e histórias.
Vez ou outra vagueia o olhar no fim daquela mata.
Quem sabe não ouço o estampido daquela onda.
Saudade do desassossego daquele dia, que me inebriava. A paz que hoje deixa de ocupar o coração desse povo.
Vem pororoca! Derrama tua história. Naufraga e arrasta esse povo.
Vem! Afugenta essa rotina. Respinga e acalma essa gente!
Devolve-me a paz de novo.

                                                                       ANTONIO LÚCIO CARDOSO CRISTO
A crônica homenageia a pororoca, um fenômeno que ocorria nas águas do Rio Moju, no mês de março, até meados da década de 80 e criava um “desassossego” no povo da cidade.


No tipiti, na peneira
Tiese Teixeira Júnior


É sempre um grande prazer compartilhar com vocês leitores do blog, obras literárias de nossos mojuenses. Desta vez mais um livro do nosso professor Tiese Teixeira, que muito nos tem orgulhado com seu trabalho incansável na escrita, sempre com o pensamento voltado à escola, ao aluno. Vemos nele uma grande responsabilidade enquanto educador, que se esmera em buscar conhecimento a fim de que possa dar o seu melhor para a educação. Obrigado por mais esta obra professor Tiese.


Consubstanciado nos costumes, na cultura e nas narrativas populares, No Tipiti, Na Peneira, a mais nova obra do professor Tiese Teixeira Júnior, nos presenteia com o seu olhar mestiço e nativo, ambientado no seu típico espaço: o interior, a roça, o rio. O aspecto físico, as formas de trabalho e o temperamento pacífico, herdados dessa miscigenação, caracterizam os personagens das narrativas, que emergem do seio de um povo, cuja cultura é exposta na forma do olhar, do saber, do sentir e do cultivar [...]

Esta é uma obra genuinamente cabocla. Nas entrelinhas de suas páginas estão às experiências de um povo que, apesar da modernidade, ainda mantém laços de intimidade e respeito à natureza, aos costumes e tradições que, aliados aos mais variados sabores da culinária paraense, ganham o mundo nas mãos de chefes, cujos primeiros professores são, sem sombra de dúvida, o povo das roças, unânimes em tradicionalizar e materializar as deliciosas iguarias na gastronomia paraense.


Texto extraído do site da Editora DTX

Leia também a resenha do professor de Literatura Jefferson César clicando aqui.
Acesse e adquira seu exemplar e se delicie com suas histórias.

Um texto como aperitivo a vocês.

SABERES
Sempre que penso em gente trabalhando naquele mundo, vejo mulheres, em primeiro plano. Vejo a Maria do Germano. Tinha esse nome porque era casada com um senhor, chamado Germano. Devia ter uns 55 anos. Estatura mediana. Largo sorriso e um bom humor inesquecível. Mexia a farinha no forno com uma habilidade, que dava gosto ficar olhando. Aquele trabalho exigia força física e habilidade na condução do rodo, que criava os movimentos de levar e trazer a farinho no interior do forno, num processo que começava lento, na fase de escaldar a massa, e aos poucos, ia ficando apressado, pois, do contrário, a farinha poderia queimar. Aos meus olhos, o movimento de puxar era sempre mais intenso que de empurrar a farinha de volta. Às vezes, ela criava verdadeiras acrobacias jogando porções de farinha pra cima, como num gesto de exibição de suas habilidades naquele trabalho. Ora os braços estavam levantados acima da cabeça, ora na altura da cintura. Não paravam. Era como uma dança. Um saber fazer importante naquele mundo. Nada disso excluía a enorme força física empregada naquela tarefa. Trabalho pesado e feito por mulher. Trabalho que alimentava vidas. Era como a Naza, quando fazia paçoca de gergelim. Às vezes, movimenta-se rapidamente em batidas ininterruptas, noutras, batia compassado, talvez como forma de descansar da lida. Em casa tinham dois pilões. Um ficava de pé, o que obrigava a gente ficar, também, de pé para socar a paçoca, e um que ficava deitado, em que era possível fazer o trabalho sentado. Eu, claro, quando me atrevia a socar milho pra dar comida aos pintos, usava a segunda opção. Mas, a Naza sempre usava o grande que ficava de pé. Tinham duas mãos de pilão também. No pilão pilava-se arroz, milho, café torrado, maniva pra fazer maniçoba e paçoca de gergelim, que pra tomar com café era ótimo. A mistura era: Gergelim torrado, açúcar, farinha e força nos braços. A paçoca era guardada numa lata, pra se manter torrada. Ficava numa prateleira baixa, e ao lado tinha sempre uma colher, então, era comum vez por outra durante o dia, alguém dar uma paradinha e colocar uma colher de paçoca na boca e seguir seu rumo, ou ir até o pote, que ficava no outro canto da cozinha, tomar um caneco de água, pra descer o alimento e depois seguir pra seus afazeres. Logo a lata ficava vazia e era comum um faminto desavisado reclamar que não tinha mais paçoca. Não me lembro de ver a Naza comendo aquele alimento que ela fazia com tanto esmero. Alias, só lembro da Naza trabalhando. Parecia que ela estava sempre procurando algo pra fazer. O trabalho dela era um dos que mais movia aquele mundo. Eu gostava, também, de quebra queixo, hummm... feito de gergelim torrado com açúcar, levado ao fogo até o açúcar caramelar em uma panela de barro. Depois era colocado numa folha de bananeira, pra esfriar e endurecer. Acho que o nome se devia ao fato de ser tão duro, que quase quebrava os dentes na hora da mordida. Eu acompanhava todo o processo, sempre apressado e tagarelando. Quem comia primeiro era eu. Ser o filho caçula tinha lá suas vantagens.

TIESE TEIXEIRA JR

Do livro NO TIPITI, NA PENEIRA